As chamas que o consomem
Um fumo negro crescia abundantemente ao longo de vários quilómetros na região do Douro, uma zona arborizada que estava agora a sofrer com os horrores de chamas intensas. Um homem com um enorme corte na cara olhava fascinado por criar todo aquele caos. Observava despreocupado para as labaredas, o seu olhar faiscava de prazer. Estava completamente vestido de negro, a cor do seu espírito.
De facto, não tinha uma verdadeira razão para ter começado aquele incêndio. Apenas tinha uma insana apetência para destruir, aquilo dava-lhe uma satisfação especial. Esta não era a sua estreia. Não era a primeira vez que ateava fogos, permanecia ali sempre a observar o seu trabalho. Formou-se nos seus lábios um sorriso demente, tinha voltado a conseguir o seu intento. Estava distraído com toda aquela desordem, aquele era o seu mundo, o mundo da devastação.
Um olhar tresloucado consumiu-o, a loucura era a sua parceira de crimes. Dizia algo imperceptível entre dentes, possuía um estranho sotaque. De um momento para o outro começou a suar abundantemente… Sem que notasse o fogo circundo-o, quando reparou já era tarde demais. Entendeu que estava preso, não tinha saída. A sua vida de loucura, ia acabar naquele dia. Deu uma longa e sinistra gargalha. Enfim ia chegar à sua verdadeira casa – o inferno.
As chamas lavraram durante dias na região entre o Douro e o Vouga, um incêndio destruidor. Foram consumidos mais de 2400 hectares, uma triste imagem num dos mais belos locais portugueses. Entre os destroços, os bombeiros encontraram um corpo carbonizado…