Tomar uma posição
Abriu a porta sorrateiramente, sem fazer qualquer espécie de barulho. Avançou tremulamente, não queria dar de caras com o seu marido. No entanto, os seus receios revelaram-se infundados. Ele estava deitado na cama a ressonar, sem a mínima preocupação com as nódoas negras que lhe tinha provocado minutos antes. Por momentos, sentiu um desejo enorme de agredi-lo. Revoltava-lhe a forma descontraída com ele dormia de consciência leve. Contudo, não era capaz de descer tão baixo, ia ser exactamente como ele. Não lhe ia dar esse prazer, era superior a isso.
Enquanto o seu marido dormia, tirou algumas roupas para uma mochila velha que tinha no quarto. Não demorou muito tempo nessa tarefa, não queria correr riscos! Saiu daquela que tinha sido a sua casa de terror. Sabia que não iria regressar mais aquele local, fazia parte do seu passado. Tinha tomado a decisão de virar as costas aquela vida de dor e desespero, merecia algo melhor! Aquela era a sua forma de tomar uma posição, de lutar por uma vida melhor. Por uma em que pudesse sorrir verdadeiramente. Quando saiu daquela casa voltou a ter algo que julgava ter esquecido ou perdido – a esperança.
Divorciou-se pouco tempo depois. Passou-se dois anos desde que tinha saída daquela casa, a sua vida estava equilibrada, tinha um novo emprego e uma confiança reforçada. Era uma nova mulher. A sua vida estava finalmente a erguer-se, estava numa relação estável há mais de um ano em que era respeitada por um homem que a amava incondicionalmente. Naquele dia tinha surpresa bastante especial para ele. Aproximou-se do seu namorado e deu um longo beijo na bochecha. Ele fez aquele sorriso encantado que tanto gostava. “Hoje descobri que daqui a uns meses vamos ter companhia”, segredou-lhe ao ouvido, enquanto lhe colocava a mão na barriga. Instantaneamente caiu uma lágrima na face daquele homem que de seguida lhe deu um abraço que pareceu durar uma eternidade. Enfim, vivia a vida que sempre sonhara…
Parte 1 || Parte 2
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