Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Um Mar de Recordações

Um Mar de Recordações

19.Out.14

Um luto devastador

Passou um mês depois daquela tempestade devastadora, mas ainda permaneciam alguns destroços do dia sinistro. A vila tinha perdido a sua alegria, outrora colorida e jovial, agora eram os tons negros que imperavam. Parecia um local completamente transfigurado. A população ainda estava a tentar absorver a perda de Bruno Pires. O jovem desaparecera sem deixar rasto naquele temporal destruidor. Naquela pequena vila piscatória, a saudade ainda era extremamente dolorosa.

Numa tosca casa junto ao mar, o silêncio reinava. No chão sentado contra a parede um embriagado José Brandão permanecia miseravelmente. Desde da tempestade que não tinha voltado ao mar. Estava com um aspecto deplorável, umas longas olheiras mostravam o pouco descanso que tinha tido nos últimos tempos, enquanto uma barba por fazer dava ênfase ao desnorte daquele homem. O seu olhar não tinha qualquer tipo de vida, era uma sombra do corajoso e aventureiro capitão. Lá fora começou a chover com uma enorme intensidade, cada gota parecia uma faca no seu coração ferido, numa dor ardente e contínua.

Com o desenrolar dos minutos aquele som destrutivo fê-lo sentir algo diferente, desejou pela primeira vez enfrentar os fantasmas do passado.  Não saia de casa há algum tempo, isolara-se naquela depressão destruidora. Culpabilizava-se pela morte do seu companheiro.  Grunhiu ao tentar mexer as suas pernas dormentes, os primeiros passos foram extenuantes. Parecia estar a tentar redescobrir a sua força. Saiu de casa de uma forma desarticulada. Sabia onde tinha de ir, precisava de enfrentar o seu medo.

Quando Brandão percorreu o denso areal, ficou parado em frente do mar agitado. Ao fundo observava a zona de rebentação. As lágrimas caíam-lhe fervorosamente. Continuava revoltado. Gritou descontroladamente, parecia um homem possuído.  Permaneceu num longo silêncio depois daquela descarga emocional. Apenas desejava que o tempo voltasse atrás. Ficou assim durante horas, Só abandonou aquele local quando a última gota caiu do céu, aquela era a sua homenagem.  Antes de ir embora largou um “Desculpa ter-te falhado companheiro” quase imperceptível…

 Imagem retirada de: http://oglobo.globo.com/

Parte 1 | Parte 2

 

 

Segue-me em:

Sapo || Facebook || Twitter || Instagram || Youtube || Bloglovin' ||

53 comentários

Comentar post